Sei que muitos consideram Martha Medeiros literatura feminina. E de fato é bem feminina no sentido que fala ao coração de nossos questionamentos mais íntimos. Vai a lugares que a maioria dos homens ou não entende ou tem medo de ir. Lugares que talvez Chico Buarque iria.
Então na coluna do domingo que ainda não chegou ela foi fundo. Mergulhou nela mesma. Se perguntou se dentro dela mesma era um bom lugar pra viver. A resposta simplória foi sim. Do que se segue faço dela as minhas palavras:
"Dentro de mim há pensamentos demais, o que torna tudo meio caótico, mas tenho tentado dar uma arrumada nessas ideias e manter cada uma em sua gaveta. Há também sentimentos variados, mas de forma alguma vou espulsá-los, deixo que circulem à vontade por esse meu corpo que lhes serve de ringue, já que eles às vezes brigam uns com outros.
Dentro de mim é sempre verão e toca música o tempo inteiro, e mantenho uma satisfação secreta para não passar por boba. Há crianças e adultos dentro de mim, todos da mesma idade. Aqui dentro existe uma praia e uma montanha coladas uma na outra, parece até o Rio de Janeiro, só que os tiroteios são feitos com bala de festim. Dentro de mim estão muitas lágrimas que não foram choradas para fora e muitos sorrisos que, de tão íntimos, também guardei. Dentro de mim são produzidas algumas cenas sofisticadas e também roteiros de filme B. Um universo movimentado e contraditório: como não gostar de viver aqui dentro?
E você, tem sido um bom hospedeiro de si mesmo?"
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